quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Homenagem a gestão do GCD 2009/2011

Repúdio ao Vereador Agressor


A Câmara Municipal de Valparaíso de Goiás vivencionou recentemente um dos seus episódios mais lamentáveis em todas as suas legislaturas. Refiro-me a infeliz frase do senhor vereador Professor Silvano (PT) que para justificar a capacidade de articulação da senhora prefeita municipal Lêda Borges disse que “uma cruzada de pernas da prefeita garante a aprovação de qualquer coisa naquela casa”.

Em um país que amarga a triste estatística de uma mulher ser espancada a cada 15 segundos (Fonte: Fundação Perseu Abramo), ou seja, 2,1 milhões por ano não é aceitável que um parlamentar municipal de uma grande cidade goiana se dê o direito de se utilizar dessa argumentação, ou falta dela no embate político.


Sabemos que existe ainda infelizmente como forma de divulgação de produtos pelos meios de comunicação de massa a exploração da sensualidade da mulher, rebaixando seu papel a simples objeto de satisfação da libido masculina. Vez por outra a mídia projeta também as famosas “mulheres frutas” que em nada somam a causa da emancipação da mulher.

Mas estamos no caso concreto falando de uma mulher que é bacharel em direito, professora, servidora de carreira do TJDFT, ex-secretária municipal de educação, ex-vereadora, ex-secretária municipal de infra-estrutura urbana, ex-coordenadora de uma junta de conciliação da justiça do DF, ex-assessora parlamentar no senado federal e nossa atual chefe do poder executivo municipal, e muito mais importante: esposa, mãe amorosa e um ser humano capaz que cumpre seus deveres de cidadã.

Uma ex-prefeita e atual deputada federal que governou a maior cidade da America latina a cidade de São Paulo, Luíza Erundina (PSB-SP) costuma dizer sobre a condição da mulher e sua participação política: “somos mais de 50% da sociedade, e os outros 49% nós parimos.”

Fico imaginando será que as grosseiras palavras do nobre parlamentar foram provocadas por recalque? Afinal ele foi preterido por seu partido na disputa a prefeitura por uma mulher a ex-vereadora Lucimar Nascimento, de quem esperamos ainda até como socióloga que é uma manifestação pública de condenação ao destempero verbal do agressor colega de partido.

Não vou aqui traçar uma linha histórica no Brasil que parte do movimento sufragista no século passado que deu o direito a votar para as mulheres até a eleição de uma delas para o cargo de presidenta da república em 2010, aliás, mulher essa do mesmo partido do vereador agressor, por tudo isso é inacreditável que uma autoridade possa representar o que há de pior no machismo opressor arraigado ainda na cultura de parcela de homens com mentes rudimentares e não evoluídas humanisticamente.

A agressão do vereador Professor Silvano (PT), pode não ter sido física, mas atingiu a honra e a dignidade da prefeita Leda Borges, não só a dela, mas a de todas as mulheres valparaisenses que são mães, esposas, companheiras, filhas, irmãs, trabalhadoras e profissionais.

Esperamos que o repúdio da nossa comunidade faça ressonância naquela casa de leis, e que as providencias sejam tomadas, tendo em vista que os estudos sobre a violência contra a mulher apontam que os seus assassinatos começam pelas humilhações verbais e psicológicas (como a do vereador) depois vem os empurrões, agressões sem lesões, as lesões graves e finalmente a consumação do homicídio.

Senhores vereadores não cruzem os braços e nem tampem seus ouvidos ao clamor das ruas que pede punição exemplar ao vereador agressor!

Suenilson Saulnier de Pierrelevée Sá
Morador de Valparaíso de Goiás há
25 anos. 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Do começo ao fim, dúvidas...

Em algum momento das nossas vidas na idade adulta sentimos uma imensa falta do que fomos, inquietamo-nos com o que representamos no presente e tememos o que ainda seremos.

Não se trata em absoluto de uma crise de identidade como aparentemente podemos concluir, mas em verdade são os questionamentos normais do ser humano que está em evolução constante e na busca da sua representatividade enquanto individuo em sua família e nos grupos sociais.

A saudade do passado é referente ao período da infância e em especial da juventude compreendida entre a adolescência e o inicio da idade adulta, quando nossas emoções pulsam na ponta dos dedos, onde nos investimos de uma urgência pela descoberta do novo, as dúvidas nascem e desaparecem em quantidade, lutamos por nossa autonomia, forjamos nosso caráter e queremos uma identidade própria. É nessa fase que sentimos nossas primeiras decepções, angústias, fracassos, vitórias, auto-afirmação e compreendemos o valor da esperança.

Logo depois vêm à fase adulta, é nesse instante que após anos de transformações parece a certa hora que nos falta fôlego, um propósito intimo um compromisso conosco que justifique o porquê da continuidade da caminhada. É engraçado que a essa altura já não sejamos os mesmos de antes e nem poderia ser diferente, afinal os anos se passaram e muita coisa aconteceu. Aquilo que queríamos ser e conhecer foi adquirido em parte, e no meio do caminho fizemos renuncias, escolhas, inflexão de rumos e isso com certeza marca com a dualidade constante entre o contentamento e a frustração.

Quando jovens a idéia da imortalidade estava implícita em nossos atos, o descompromisso com o tempo na terra é quase regra para quem é jovem, pois é tanto vigor, tanta energia que não nos passa pela cabeça a idéia do perecimento do corpo.

O contrário disso, no entanto é a visão de quem se encontra na idade adulta, olha-se para frente não com a certeza de continuidade ansiada pelos jovens, mas com a certeza de que o ciclo terreno chega gradualmente ao fim e essa verdade é inquestionável para a humanidade.

Sabendo disso o balanço inevitável do que fomos e somos começa a ser quantificado, o acerto de contas com a nossa consciência tão escanteada em anos idos é mais freqüente, daí é um passo para que nossos questionamentos mudem de contexto e comecem a transitar em dúvidas não menos significativas do que aquelas que carregávamos no começo da jornada – O que eu me tornei me fez feliz? Valeu à pena tudo que fiz até agora? O que será de mim no fim?  

Talvez partamos sem essas respostas e se eu pudesse opinar segundo a minha própria vivência aos demais eu diria que se nos devotarmos ao próximo, se formos fieis aos bons princípios, se não formos covardes diante das dificuldades, não nos rendermos aos vícios, não nos deixar usar pelos de mau coração e se mantivermos a vontade de empreender por toda a vida alimentando a esperança é bem provável que a despedida seja mais agradável.